Quem me conhece sabe que não foi fácil processar o filme O Despertar
da Força - bem sei que não é sobre esse que querem ler, mas ainda assim,
acompanhem-me por mais uns momentos. Apesar de dizer a mim próprio que não devia
criar demasiadas expectativas, a verdade é que falhei nesse propósito e entrei
na sala de cinema à espera de ser maravilhado. E bolas, tinha esse direito!
Estamos, afinal de contas, a falar de um filme Star Wars. Mas não aconteceu. O
filme melhorou à segunda e terceira visualização, mas ainda assim, o estrago da
primeira impressão estava feito. E não me compreendam mal – não é que não
tivesse gostado do filme … só não me deixou maravilhado!
Avancemos então para 2016. Começam a sair pormenores sobre o
filme Rogue One e inicia-se a contagem decrescente para a sua estreia, que
acontece hoje mesmo, dia 15 de Dezembro. De alguma forma parece que o hype do
ano passado não se repete: as acções promocionais são mais tímidas, Star Wars
não tem o tempo de antena nos grandes meios de comunicação social que tinha no
ano passado por igual altura, entre outras coisas. Quanto a mim, tentei também não
ser vítima das expectativas e entrar na sala de cinema como uma folha em
branco. Muito zen, eu sei. Mas não era tão fácil como parecia! As obrigações
para com a Clone TV – e a curiosidade normal, admito – levaram-me a ver
teasers, trailers, spots, a comprar figuras de acção, a ler teorias … uma
panóplia de coisas que fizeram que, sem que me desse conta, a expectativa
ocupasse, qual ocupa, uma parte do meu estado de espírito quanto ao filme.
E com a expectativa, veio o “medo” (que já sabemos, é como
uma espécie de GPS onde só podemos ter como destino o Lado Negro da Força) e a
grande dúvida: e se o filme desiludir?
Foi então, preenchido por um turbilhão de emoções, que fui
ontem ao cinema ver a ante-estreia de Rogue One: Uma história de Star Wars.
Numa comparação (a última, prometo) com o filme que vimos o
ano passado, Rogue One supera-o, mas é também muito mais que isso – é um filme
que vale por si próprio. É certo que os desconhecedores do Universo Star Wars
poderão sentir alguma resistência em determinadas partes da história, mas os
fãs certamente reconhecerão que Rogue One é uma máquina bem oleada que consegue
capturar a essência dos filmes originais sem parecer remeter para um saudosismo
fácil. Com um “easter egg” aqui e ali – desde a introdução de personagens a
outras referências – Rogue One trilha o seu caminho sem deixar, contudo, de nos
introduzir elementos novos que tornam o filme numa experiência que nos aquece,
mas que consegue ser refrescante ao mesmo tempo.
A história é também competentemente convertida em filme (nem sempre se consegue), e conduz-nos num crescendo de acção que apesar de alguma confusão inicial (dizem alguns, eu admito que não o senti particularmente) desenvolve-se a um ritmo muito bem conduzido por Gareth Edwards. Onde Rogue One inova verdadeiramente é nas personagens que nos traz e nas suas motivações e emoções. Sem a dualidade Jedi e Sith ou bom e mau (ainda assim, menos dual depois das prequelas onde vemos uma Ordem Jedi um tanto ou quanto fechada em sim mesmo), temos personagens mais humanas onde os cinzentos estão, como na vida real, bem mais presentes. É claro que não deixa de ser um filme onde os heróis “vencem” – e até certo ponto, já o sabíamos, embora não o como e a que custo – mas temos ainda assim um leque de emoções presente que dão a este filme um tom que, como já alguns disseram, não víamos provavelmente desde o Império Contra-Ataca.
Sobre as personagens não direi muito, sob pena de uma
descrição demasiado pormenorizada delas tirar parte do encanto do filme, mas
quanto à escolha para os seus actores, é certo que ganharão o seu lugar no
grupo de estrelas de Star Wars. A actriz Felicity Jones é fenomenal no
desempenho do seu papel, sendo que os restantes, não lhe fazendo frente, não
ficam propriamente atrás. Uma nota muito pessoal para Donnie Yen que interpreta
uma das personagens mais interessantes, na minha opinião, do filme e que
adoraria ver retratada, quem sabe, na série Rebels. Quanto aos vilões, o
regresso de Darth Vader, apesar de ter o seu quê de “fan service”, sabe ainda
assim sempre bem. De resto, temos o Director Krennic a protagonizar uma batalha
de egos – e estatuto – com outra famosa personagem da saga que regressa aos
grandes ecrãs (sobre isso mais falaremos após o levantamento da interdição de
spoilers) e algumas novas personagens do exército imperial que enchem o olho –
os Imperial Death Troopers e os Shore Troopers. Se os segundos parece ser um
resultado do ambiente onde estão, fica a certeza que queremos mais
desenvolvimentos sobre os primeiros e sobre o porquê de não terem “espaço” na
saga original.
Ainda uma nota para a banda sonora, já que, pela primeira
vez num filme Star Wars, a sua autoria não coube a John Williams. Admitindo que
é uma questão que descuro em alguns filmes, tive o cuidado de procurar ter
particular atenção neste filme. O ideal é encontrar sempre um meio-termo, onde
as notas musicais envolvem as imagens de forma orgânica, resultando uma
excelente simbiose entre imagem e áudio. Também aqui, considero que a missão
foi bem-sucedida. Numa primeira
visualização e audição não me parece que tenhamos uma Marcha Imperial ou um Duel
of Fates, mas ainda assim, a banda sonora adapta-se muito bem ao filme e será
certamente mais uma peça de interesse para os audiófilos fãs de Star Wars.
Em suma, Rogue One chegou, viu e venceu! Não era fácil a tarefa de agradar os fãs contando uma história cujo desfecho já era em parte conhecido, mas ainda assim a Lucasfilm consegui-o. A Disney ganha a
aposta e mostra que apesar de ter comprado a marca Star Wars, há espaço para
coisas novas dentro da saga e, mais importante que isso, para coisas boas! É um
filme de acção, é certo, mas temos direito a personagens tridimensionais que,
não obstante a impossibilidade de tudo revelar sobre si – e aí entrarão
certamente outros meios, nomeadamente livros e séries animadas – somos presenteados
com um grupo com o qual se torna fácil nos relacionarmos. Para os críticos do
episódio VII, que os houve, aconselho dar uma oportunidade a Rogue One por tudo
o que aqui disse. Quanto a mim, sai “vingado” da sala de cinema, com um sorriso
infantil na cara e uma vontade imensa de vos falar sobre isso.
No fundo, fica novamente o sentimento de que é uma óptima
altura para se ser fã de Star Wars!
Mário R. Cunha
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