quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Rogue One: Uma História de Star Wars – uma declaração de amor

 

Quem me conhece sabe que não foi fácil processar o filme O Despertar da Força - bem sei que não é sobre esse que querem ler, mas ainda assim, acompanhem-me por mais uns momentos. Apesar de dizer a mim próprio que não devia criar demasiadas expectativas, a verdade é que falhei nesse propósito e entrei na sala de cinema à espera de ser maravilhado. E bolas, tinha esse direito! Estamos, afinal de contas, a falar de um filme Star Wars. Mas não aconteceu. O filme melhorou à segunda e terceira visualização, mas ainda assim, o estrago da primeira impressão estava feito. E não me compreendam mal – não é que não tivesse gostado do filme … só não me deixou maravilhado!

 Avancemos então para 2016. Começam a sair pormenores sobre o filme Rogue One e inicia-se a contagem decrescente para a sua estreia, que acontece hoje mesmo, dia 15 de Dezembro. De alguma forma parece que o hype do ano passado não se repete: as acções promocionais são mais tímidas, Star Wars não tem o tempo de antena nos grandes meios de comunicação social que tinha no ano passado por igual altura, entre outras coisas. Quanto a mim, tentei também não ser vítima das expectativas e entrar na sala de cinema como uma folha em branco. Muito zen, eu sei. Mas não era tão fácil como parecia! As obrigações para com a Clone TV – e a curiosidade normal, admito – levaram-me a ver teasers, trailers, spots, a comprar figuras de acção, a ler teorias … uma panóplia de coisas que fizeram que, sem que me desse conta, a expectativa ocupasse, qual ocupa, uma parte do meu estado de espírito quanto ao filme. 

E com a expectativa, veio o “medo” (que já sabemos, é como uma espécie de GPS onde só podemos ter como destino o Lado Negro da Força) e a grande dúvida: e se o filme desiludir?

Foi então, preenchido por um turbilhão de emoções, que fui ontem ao cinema ver a ante-estreia de Rogue One: Uma história de Star Wars.

Numa comparação (a última, prometo) com o filme que vimos o ano passado, Rogue One supera-o, mas é também muito mais que isso – é um filme que vale por si próprio. É certo que os desconhecedores do Universo Star Wars poderão sentir alguma resistência em determinadas partes da história, mas os fãs certamente reconhecerão que Rogue One é uma máquina bem oleada que consegue capturar a essência dos filmes originais sem parecer remeter para um saudosismo fácil. Com um “easter egg” aqui e ali – desde a introdução de personagens a outras referências – Rogue One trilha o seu caminho sem deixar, contudo, de nos introduzir elementos novos que tornam o filme numa experiência que nos aquece, mas que consegue ser refrescante ao mesmo tempo.

A história é também competentemente convertida em filme (nem sempre se consegue), e conduz-nos num crescendo de acção que apesar de alguma confusão inicial (dizem alguns, eu admito que não o senti particularmente) desenvolve-se a um ritmo muito bem conduzido por Gareth Edwards. Onde Rogue One inova verdadeiramente é nas personagens que nos traz e nas suas motivações e emoções. Sem a dualidade Jedi e Sith ou bom e mau (ainda assim, menos dual depois das prequelas onde vemos uma Ordem Jedi um tanto ou quanto fechada em sim mesmo), temos personagens mais humanas onde os cinzentos estão, como na vida real, bem mais presentes. É claro que não deixa de ser um filme onde os heróis “vencem” – e até certo ponto, já o sabíamos, embora não o como e a que custo – mas temos ainda assim um leque de emoções presente que dão a este filme um tom que, como já alguns disseram, não víamos provavelmente desde o Império Contra-Ataca.


Sobre as personagens não direi muito, sob pena de uma descrição demasiado pormenorizada delas tirar parte do encanto do filme, mas quanto à escolha para os seus actores, é certo que ganharão o seu lugar no grupo de estrelas de Star Wars. A actriz Felicity Jones é fenomenal no desempenho do seu papel, sendo que os restantes, não lhe fazendo frente, não ficam propriamente atrás. Uma nota muito pessoal para Donnie Yen que interpreta uma das personagens mais interessantes, na minha opinião, do filme e que adoraria ver retratada, quem sabe, na série Rebels. Quanto aos vilões, o regresso de Darth Vader, apesar de ter o seu quê de “fan service”, sabe ainda assim sempre bem. De resto, temos o Director Krennic a protagonizar uma batalha de egos – e estatuto – com outra famosa personagem da saga que regressa aos grandes ecrãs (sobre isso mais falaremos após o levantamento da interdição de spoilers) e algumas novas personagens do exército imperial que enchem o olho – os Imperial Death Troopers e os Shore Troopers. Se os segundos parece ser um resultado do ambiente onde estão, fica a certeza que queremos mais desenvolvimentos sobre os primeiros e sobre o porquê de não terem “espaço” na saga original. 

Ainda uma nota para a banda sonora, já que, pela primeira vez num filme Star Wars, a sua autoria não coube a John Williams. Admitindo que é uma questão que descuro em alguns filmes, tive o cuidado de procurar ter particular atenção neste filme. O ideal é encontrar sempre um meio-termo, onde as notas musicais envolvem as imagens de forma orgânica, resultando uma excelente simbiose entre imagem e áudio. Também aqui, considero que a missão foi bem-sucedida.  Numa primeira visualização e audição não me parece que tenhamos uma Marcha Imperial ou um Duel of Fates, mas ainda assim, a banda sonora adapta-se muito bem ao filme e será certamente mais uma peça de interesse para os audiófilos fãs de Star Wars.


Em suma, Rogue One chegou, viu e venceu! Não era fácil a tarefa de agradar os fãs contando uma história cujo desfecho já era em parte conhecido, mas ainda assim a Lucasfilm consegui-o. A Disney ganha a aposta e mostra que apesar de ter comprado a marca Star Wars, há espaço para coisas novas dentro da saga e, mais importante que isso, para coisas boas! É um filme de acção, é certo, mas temos direito a personagens tridimensionais que, não obstante a impossibilidade de tudo revelar sobre si – e aí entrarão certamente outros meios, nomeadamente livros e séries animadas – somos presenteados com um grupo com o qual se torna fácil nos relacionarmos. Para os críticos do episódio VII, que os houve, aconselho dar uma oportunidade a Rogue One por tudo o que aqui disse. Quanto a mim, sai “vingado” da sala de cinema, com um sorriso infantil na cara e uma vontade imensa de vos falar sobre isso. 

No fundo, fica novamente o sentimento de que é uma óptima altura para se ser fã de Star Wars! 

Mário R. Cunha

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